Tal e qual como recebi, transcrevo na íntegra, relatos impressionantes, dantescos mesmo. O que aqui se segue, joga-nos para o submundo da corrupção, da oligarquia, e do poder, aquele agora exercido também, já se sabe, no caso "Freeport", pelo mesmo canal. Atente-se:
Não digam que não foram avisados
Texto publicado na revista «Grande Reportagem» em 26 de Março de 2005, pouco após a posse do actual governo de José Sócrates:
Bruxas na Justiça
Destaque: Dará garantias de isenção um ministro suspeito de ter intervindo no curso da justiça?
"Tenho com Alberto Costa laços de amizade."
Frequentámos o mesmo liceu (onde ele se destacou pelo brilhantismo) e recebeu-me de braços abertos no exílio em Paris, pouco antes da queda da ditadura. Mas o dever de informar obriga-me a evocar os eventos em que o actual ministro da Justiça se envolveu em 1988 em Macau, os quais, até ao fecho desta edição da GR, não vi relembrados. Costa dirigia o Gabinete dos Assuntos de Justiça do território, por nomeação de António Vitorino, secretário-adjunto para a Justiça, entretanto substituído por José António Barreiros. Cavaco Silva dominava Portugal, e Macau, sob tutela do Presidente Mário Soares e tendo como governador Carlos Melancia, era a única parcela não-autárquica onde o PS tinha poder executivo. De súbito, o presidente da TdM (Teledifusão de Macau, empresa pública da rádio e TV), o socialista António Ribeiro, foi detido sob suspeita de graves irregularidades financeiras. O caso prejudicaria as negociatas tentadas em Macau por um grupo de socialistas amigos de Soares, com o seu patrocínio e a cumplicidade de Melancia (como narra o livro «Contos Proibidos - Memórias de um PS Desconhecido», de Rui Mateus, membro do grupo). Pouco após a detenção, o juiz instrutor do processo queixou-se ao governador de que Costa o pressionara para atenuar a medida preventiva contra Ribeiro. Escândalo dentro do escândalo: o inquérito judicial local propõe que a conduta de Costa, apesar da «impropriedade», não sofra sanção, mas Barreiros, alegando que o subordinado actuou à sua revelia, exonera-o, para ser ele próprio afastado a seguir por Soares, sob proposta de Melancia.
O titular da Justiça «natural» de Sócrates era António Costa, só que as suas ingerências no processo Casa Pia, há dois anos, tê-lo-ão empurrado para a Administração Interna. Mas será que o outro Costa, sob fortes suspeitas de intervenção no curso da justiça em Macau, dá as garantias de isenção a que está obrigado? Teremos pelo menos de ter um pé atrás, à espanhola: «Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay!»
Joaquim Vieira
Texto publicado na revista «Grande Reportagem» em 26 de Março de 2005, pouco após a posse do actual governo de José Sócrates:
Bruxas na Justiça
Destaque: Dará garantias de isenção um ministro suspeito de ter intervindo no curso da justiça?
"Tenho com Alberto Costa laços de amizade."
Frequentámos o mesmo liceu (onde ele se destacou pelo brilhantismo) e recebeu-me de braços abertos no exílio em Paris, pouco antes da queda da ditadura. Mas o dever de informar obriga-me a evocar os eventos em que o actual ministro da Justiça se envolveu em 1988 em Macau, os quais, até ao fecho desta edição da GR, não vi relembrados. Costa dirigia o Gabinete dos Assuntos de Justiça do território, por nomeação de António Vitorino, secretário-adjunto para a Justiça, entretanto substituído por José António Barreiros. Cavaco Silva dominava Portugal, e Macau, sob tutela do Presidente Mário Soares e tendo como governador Carlos Melancia, era a única parcela não-autárquica onde o PS tinha poder executivo. De súbito, o presidente da TdM (Teledifusão de Macau, empresa pública da rádio e TV), o socialista António Ribeiro, foi detido sob suspeita de graves irregularidades financeiras. O caso prejudicaria as negociatas tentadas em Macau por um grupo de socialistas amigos de Soares, com o seu patrocínio e a cumplicidade de Melancia (como narra o livro «Contos Proibidos - Memórias de um PS Desconhecido», de Rui Mateus, membro do grupo). Pouco após a detenção, o juiz instrutor do processo queixou-se ao governador de que Costa o pressionara para atenuar a medida preventiva contra Ribeiro. Escândalo dentro do escândalo: o inquérito judicial local propõe que a conduta de Costa, apesar da «impropriedade», não sofra sanção, mas Barreiros, alegando que o subordinado actuou à sua revelia, exonera-o, para ser ele próprio afastado a seguir por Soares, sob proposta de Melancia.
O titular da Justiça «natural» de Sócrates era António Costa, só que as suas ingerências no processo Casa Pia, há dois anos, tê-lo-ão empurrado para a Administração Interna. Mas será que o outro Costa, sob fortes suspeitas de intervenção no curso da justiça em Macau, dá as garantias de isenção a que está obrigado? Teremos pelo menos de ter um pé atrás, à espanhola: «Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay!»
Joaquim Vieira
@Fernando Marques
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