31/07/2010

Democracia Sem Igualdade Nem Direito à Justiça?

Quem quer que continue a acreditar piamente na maior impostura nacional, que «Portugal é uma democracia», leia o que escreve uma vítima dessa «democracia», como anotado ao fim da transcrição deste e-mail.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Em Março de 2002 comprei um PPR a um balcão do banco TOTTA. Abri com €1000 e era tirado da minha conta á ordem €50 todos os meses que eram acrescentados á conta do PPR. Achei que era boa ideia pois alguma coisa que acontecesse no futuro tinha ali um pé de meia onde me agarrar. Até porque não era o primeiro que fazia (noutras instituições) e nunca tinha tido problemas.

Li o contrato, ficando com as condições gerais em meu poder, as quais dizem bem explícito que não posso levantar o PPR em caso algum, antes de 5 anos, a menos que me encontrasse no desemprego de longa de duração ou doença que me impossibilitasse de trabalhar.

Ora em Fevereiro de 2004 fiquei desempregada! Fui vivendo tapando dum lado, destapando do outro. Até que cheguei a um ponto que em Outubro de 2006 tive que recorrer ao PPR pois estava em risco de perder a minha casa.

Nessa altura tinha depositado no PPR á volta de €4000 e dirigi-me a um balcão do TOTTA para fazer um resgate de €1700 o qual foi feito sem qualquer problema nem perguntas nem pedido de qualquer documento que provasse a minha situação de desemprego (ainda perguntei se devia entregar alguma prova e disseram que não precisava, é que o PPR só fazia os 5 anos em Março de 2007, daí a minha pergunta).

Em Janeiro, e como a situação subsistia, dirigi-me novamente ao Balcão para fazer novo resgate, desta vez de €1000, e cancelar as entregas periódicas de €50, pois não podia continuar a faze-lo. Demoraram quase um mês para transferir o dinheiro para a conta á ordem. O DINHEIRO NÃO APARECIA!

Nessa altura estavam lá cerca de €2450 (4000-1700=2300+150 de 3 meses de entregas de Outubro a Janeiro = 2450?) assim que os €1000 entraram na conta, 1 mês depois do pedido, e achando estranho a demora, desconfiei que se passava qualquer coisa e mais uma vez dirigi-me ao balcão a saber o que se passava. Pedi o resgate do restante dinheiro que seriam 2450?) e o encerramento do PPR, e qual não é o meu espanto!.... a transferência para a conta á ordem foi de... €239.
Pedi explicações e ninguém sabia responder. Dirigi-me então, a concelho do gerente do Balcão, ao TOTTA SEGUROS na Rua da Mesquita em Lisboa. Uma vez ali, fui recebida no hall de entrada, depois de passar por um detector de metais (eu pergunto? quem são os LADRÕES nesta história) onde me foi pedido que fizesse uma carta a pedir as devidas explicações, o que eu fiz ali mesmo.

Quinze dias depois recebo a resposta em casa! Uma carta cheia de equações matemáticas, a justificar o porquê de chegarem aquele valor (239?). Não ficando satisfeita com aquela explicação, até porque não percebia nada daqueles heroglifos, enviei várias cartas registadas a pedir explicações.

Cartas essas que nunca obtiveram resposta da parte do TOTTA SEGUROS.

O tempo ia passando e resposta nada! Decidi então apresentar queixa no INSTITUTO PORTUGUÊS DE SEGUROS. Aí fiz uma carta explicando a situação e entregando fotocópias de todos os papeis, inclusive as condições gerais que tenho em meu poder e pelas quais me regi para comprar aquele produto.

Quase um mês depois, recebo resposta do IPS, que me dava total razão mas como mediador apenas podiam tentar resolver as coisas pela via do diálogo e me aconselhavam a dirigir-me a um advogado pois só pela via judicial seria possível de resolver.

Dirijo-me então á DECO, primeiro por email depois pessoalmente.

Mais uma vez conto toda a minha história. Eles receberam a queixa, avaliaram e o departamento jurídico deu-me razão. A DECO fez várias tentativas de contacto mas o TOTTA SEGUROS nunca se dignou responder, até que a DECO me enviou uma carta a informar-me que tinha que encerrar o processo visto o TOTTA não responder ás cartas por eles enviadas (a uns sócios expõem os casos na comunicação social, a outros fica por isso mesmo) e eles (DECO) apenas funcionam como moderadores e não têm poderes jurídicos para resolver as situações. Mais uma vez me aconselham a ir para tribunal.

Acontece, meus amigos, que pelo valor em causa (€1300 que o TOTTA me ROUBOU) nenhum advogado quer pegar no assunto e como não tenho dinheiro (o TOTTA ficou-me lá com o resto) para fazer pagar esta injustiça não consigo pôr as coisas a funcionar.

Este é o País que temos meus amigos!

Contra os grandes como é que nos defendemos?

Já pensaram o quanto somos frágeis em relação aos bancos?

Eles põem e dispõem do nosso dinheiro como muito bem entendem, tiram dinheiro das nossas contas, dizendo que são taxas daqui e dali sem nos darem cavaco.

Já pensaram nisso??

PASSEM POR FAVOR, ESTE EMAIL AO MAIOR NUMERO DE PESSOAS POSSIVEL, para que estes abusos não continuem!!

Hoje foi comigo! amanhã pode ser com vocês!

Vamos alertar as pessoas, para evitar que sejam enganadas e não comprar estes produtos a estes LADRÕES que têm cada vez mais lucros á nossa conta.

BEM HAJAM POR TEREM LIDO ATÉ AO FIM E REPASSAREM!

Sandra Salgueiro


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Como podem passar-se casos deste género? No caso presente não pode ser apenas o abuso, tem que ser, sobretudo, a impunidade no abuso incrivelmente adicionado à impossibilidade de contestação. Se os abusos fossem penalizados, de certo que os abusadores teriam mais cautela antes de se decidirem a roubar os outros impunemente.

Não temos só uma justiça podre e regida por pedantes, arrogantes incompetentes, muitos deles novatos inexperientes, politizados, sindicalizados como operários não obstante tomarem-se por soberanos quando mais não são que meros representantes do soberano. Temos também uma justiça em que ninguém acredita nem confia, que é inatingível devido às decisões tomadas pelo PSD e mantidas pelo PS.

Uma democracia exige igualdade de acesso à justiça para todos. Acesso igual para ricos e pobres. Todos com o mesmo direito de ter um advogado de sua escolha e imediatamente após o nascimento da necessidade. Ora tudo isto é absolutamente o contrário do que se passa em Portugal.

Alguém já leu ou ouviu algum jornaleiro denunciar este assunto?

Conjuntamente com a igualdade no acesso ao ensino, à saúde e a uma política de reformas baseada em cálculos de aplicação universal, o acesso à justiça faz parte das condições imprescindíveis à simples existência duma democracia. Não nos enganemos, o voto é um mero meio e a existência duma constituição nem se prova necessária pois que se conhece que no Reino Unido não existe uma constituição escrita, sabendo-se bem que é um dos maiores exemplos de democracia, pelo menos a mais antiga dos tempos modernos.

O direito à justiça gratuito e atempado é imprescindível para prestar acesso à justiça, mas nem um nem outro existem em Portugal.

Só tem direito à justiça gratuita quem estiver literalmente a morrer de fome ou quase, mas mesmo assim não totalmente. É-lhe atribuído um advogado geralmente estagiário e sempre sem experiência, que doutro modo não consegue ter clientes, apenas competente no encaminhamento da papelada e demais burocracias, e que perde quase todos os processos. Que esperança vã poderá assim ter o assistido que justiça lhe seja feita?

Alguém já leu ou ouviu algum jornaleiro denunciar este assunto tão importante?

A justiça é negada num caso de necessidade de qualquer contestação, geralmente 15 dias. Para um pobre ter acesso à justiça ou a um advogado para lhe fazer uma contestação, tem que requerer à Segurança Social e aguardar a resposta, a qual antes demorava pouco mais de um mês e que ultimamente tem chagado a mais de três! Como contestar em 15 dias?! Ou seja, o direito à contestação foi ab-rogado do já antidemocrático direito igualitário à justiça.

Alguém já leu ou ouviu algum jornaleiro denunciar este assunto?

Ora aqui está porque a Sandra Salgueiro, autora do e-mail acima transcrito, se encontrou na dramática situação que nos conta. A razão deste post é por a maioria das pessoas não estar ao corrente desta catastrófica e lancinante realidade que além de gerar injustiça, promove uma insegurança maior que a resultante da recente violência.

Alguém já leu ou ouviu algum jornaleiro denunciar este assunto?

Na narração transcrita também se reconhece que o Instituto Português de Seguros é mais uma das múltiplas instituições sem qualquer utilidade e apenas criadas para tachos em que os políticos roubam os seus salários e mordomias à população contribuinte.

Na mesma narração, sobressai ainda que a DECO embora uma organização de interesse, é puramente comercial. Só se ocupa de casos dos seus associados ou que lhe proporcionem uma publicidade substancial que lhes faça aumentar sensivelmente o número de aderentes pagantes. Todavia, não nos podemos esquecer de que a sua vocação não é a de substituir as obrigações do estado.

Sublinha-se ainda a falta de justiça e a decorrente impunidade no crime que estes governos implantaram, assim permitida por uma legislação que despreza os princípios basilares da democracia.

Alguém já leu ou ouviu algum jornaleiro denunciar este assunto? Afinal, se não é para informar, nem mesmo em questões da mais alta importância, para que servem estes animais impostores?



Este e outros artigos também publicados nos blogs do autor (1 e 2).

2 comentários:

Tia Complicações disse...

A minha opinião é igual a de muitos portugueses. O sistema estatal funciona mal. Quem legisla, a prioridade é acautelar os interesses do estado. Na realidade não sabe, nem pode saber atrás de uma secretária o que se passa no terreno minado que pisamos todos os dias. Situações caricatas como estas são o pão nosso de cada dia o mal é de quem precisa....o "nosso" problema é a falta de dinheiro para poder mexer os cordelinhos, então só nos resta engolir o sapo..

Mentiroso disse...

Pois é, Tia Complicações, mas isso não é o pior.

O grande mal está em as pessoas ainda não terem compreendido que não é votando noutro partido que se resolve seja o que for. Isso é precisamente o que a corja quer e espera da estupidez nacional, pois que é o que lhes permite irem-se revezando nos tachos e continuar tudo na mesma. Tudo na mesma no que nos diz realmente respeito e sacarem quanto podem enquanto lá estão.

Eles têm que ser dominados, é só e é tudo. Senão continuaremos nós a ser dominados e sangrados. Não haja ilusões, que em tudo o mundo se passa da mesma forma. Enquanto os portugueses não o compreenderem continuarão a pagá-lo com o coiro e com a vida. Não há meios termos nem alternativas; só há duas possibilidades, ou é uma coisa ou a outra.

twitter