15/03/2010

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE OBAMA.


O Realizador Norte-americano Michael Moore, no seu tom irónico, escreveu ao presidente Obama, no seu estilo de sempre, frontal e verdadeiro. Está criada a confusão na casa branca, Obama não poderá adiar mais as decisões que o povo americano necessita, e o mundo em geral.

Caro Presidente Obama,

Tive conhecimento de que pretende substituir o seu chefe de gabinete, Rahm Emanuel.

Gostaria de me propor como o seu humilde substituto.

Irei para Washington DC para limpar a confusão que está à sua volta. Trabalharei por um dólar por ano. Ajudarei os democratas no Congresso a encontrar o seu carácter e a esmagar os republicanos de forma não-violenta.

E ajudá-lo-ei a realizar aquilo que o povo americano quis que realizasse. Não preciso de muito, um divã numa cave da Casa Branca é suficiente.

Vá, não fique exorbitante com a minha proposta porque vamos acordar os dois às 5h da manhã, sete dias por semana e vou prepará-lo para a batalha todos os dias. Todas as manhãs, você e eu vamos fazer cem flexões e vai repetir o que eu digo:

"O povo americano elegeu-me para governar o país, não os republicanos! Sou eu que mando! Vou afastar os obstrucionistas do meu caminho! Se o povo americano não gostar daquilo que estou a fazer, podem mandar-me embora em 2012. Entretanto, eu é que decido! Agora, Congresso, deite-se no chão e faça 50 flexões!"

Depois, vestimos os fatos-de-treino e vamos a correr ao Congresso. Fazemos identificações, damos pontapés e depois recolhemos mais nomes. Se for preciso dar uns cachaços ou usar uma chave-inglesa, que seja! Nos nossos bolsos teremos um papel para mostrar às florzinhas dos democratas por quanto é que eles ganharam em 2008 - e os resultados das sondagens que mostram que a maioria dos americanos se opõem às guerras no Afeganistão e no Iraque e querem que os banqueiros sejam punidos. Como sargentos da tropa, vamos chegar ao pé deles e perguntar-lhes cara a cara: "Que parte da opção pública [do sistema de saúde] é que não entendeu, soldado?!!! No chão, quero 50 flexões, já!!"

Bem sei que este era o trabalho que Rahm Emanuel deveria estar a fazer.

Não me interprete mal. Eu sempre admirei Rahm Emanuel (se não contar o facto de ele ter pressionado a favor da NAFTA durante os anos 90, o que acabou por destruir Flint no Estado do Michigan. Eu sei, implico muito.) Ele era o que nós precisávamos - uma máquina de luta que não pede desculpa nem deixa sobreviventes. Alguém que não tem medo de sujar as mãos e pôr a direita no lugar. Longe de ser a pessoa mal-educada que tem sido retratada, Rahm é alguém que pode desancar os arruaceiros e proteger-nos deles.

Foi certamente isso que ele fez em 2006. Depois de seis longos e miseráveis anos em que a classe média foi massacrada e os pobres ignorados, Rahm Emanuel levou até ao fim a tarefa de devolver o Congresso aos democratas. Ninguém acreditava que era possível.

Mas ele conseguiu. Aterrorizou o partido de Rush (Limbaugh) e de Newt (Gingrich). Nunca tiveram tanto medo. Mas mais importante ainda foi ter conseguido incutir alguma esperança aos democratas de que poderiam fazer a melhor jogada de sempre em 2008 - consigo, nada menos que afro-americano, na pole position!

Resultou. As trevas terminaram. A grande maioria da nação chorou de felicidade na noite da eleição (aqueles que não choraram foram à rua comprar uma quantidade absurda de armas e munições). Ao contrário do outro presidente, você não "ganhou" por 537 votos na Florida (apesar de Gore ter ganho o voto popular por meio milhão), você derrotou McCain a nível nacional, por 9.522.083 votos! Os democratas da Câmara dos Representantes conseguiram uma margem enorme de 79 votos. Os democratas do Senado venceram o caucus que lhe deu a super-maioria de 60 votos, o que é inaudito desde há mais de 30 anos. As guerras iam agora acabar. A América iria ter cuidados de saúde universais, Wall Street e os bancos iam, no mínimo, ser denunciados. Os trabalhadores não seria expulsos das suas casas. Supostamente, seria o começo de uma nova era.

Mas os Republicanos não iriam desistir facilmente. Sabe, em vez de terem apenas um Rahm Emanuel, eles são todos Rahm Emanuels. É por isso que geralmente ganham. Ao contrário da maioria dos democratas, eles são resistentes e imparáveis. Quando acreditam em alguma coisa (que é normalmente neles próprios e no emprego de topo com que esperam ser um dia recompensados), lutam por isso até à morte. Metem mãos à obra não importa o quê. Se exilássemos um deles para os gelos polares que estão a derreter, ainda assim diriam que é apenas um pequeno "degelo de Janeiro", mesmo que as águas do Árctico subam acima do raio dos seus pescoços ("Vêem o que eu digo - esta água está FRIA! Que 'aquecimento' global?! Adão e Eva montavam dinossauros... aagghh!!... gulp gulp gulp").

Pensava que tínhamos acabado com estas maluquices, mas estávamos enganados. Como um monstro que não se pode enjaular, os republicanos convenceram, não apenas os média, mas você e os democratas de que 59 votos é uma 'minoria'! Gastou-se tempo precioso a tentar chegar a um "consenso" e a tentar ser "bipartidário".

Bom, você e os democratas já estão no comando há mais de um ano e nenhuma regulação do sector bancário entrou em vigor. Não temos cuidados de saúde universais. A guerra no Afeganistão intensificou-se. E dezenas de milhar de americanos continuam a perder os seus empregos e a serem expulsos de suas casas. Para a maioria de nós, não é suficiente que Bush tenha ido embora. Iupiii! Bush foi embora! Hurra! Isso não criou um único emprego.

Você é tão boa pessoa, sr. Presidente. Você veio para Washington com a mão estendida aos republicanos e eles recusaram-na. Você quis ser respeitoso e eles decidiram que iriam dizer 'não' a tudo o que sugerisse. Todavia, continua a dizer que acredita na bipartidarização.

Bom, se você quer bipartidarização, continue e deixe os republicanos ganhar em Novembro. Depois vai ter toda a bipartidarização que quer.

Deixe-me ser claro numa coisa: os democratas no dia da eleição de 2010 vão levar uma abada de proporções bíblicas se as coisas não mudarem agora. Depois da nova maioria republicana assumir o poder, eles, tal como os democratas conservadores do Congresso, conseguirão a sua destituição de forma bipartidarizada por ser um socialista e um cidadão do Quénia. Que bom que é ver os dois lados a trabalharem juntos outra vez!

E a pequena oportunidade que tivemos de consertar este país desapareceu.

Desapareceu.

Desapareceu, querida, desapareceu.

Não sei o que é que a sua equipa anda a fazer, mas eles não estão a fazer um bom trabalho. E Rahm, pobre Rahm, tornou-se num lutador - não contra os republicanos mas contra a esquerda. Chamou a todos aqueles que querem um sistema de saúde universal, "idiotas de m****." Olhe, eu não sei se o problema de Rahm é Gibbs ou Alexrod ou qualquer outro a quem devemos muito por terem conseguido que fosse eleito. Só sei que aquilo que dá gás à sua Casa Branca está a acabar. É tempo de mudar as coisas! Tempo de prepará-lo para a batalha! Vamos, Barack! Hurra, Barack! Luta, Equipa, Luta!

Tenho as malas feitas e estou pronto para ir para DC amanhã. Se ajudar, não perderá inteiramente Rahm porque eu vou levar o irmão dele comigo - o meu agente, Ari Emanuel. Pá, devia vê-lo a negociar um acordo! Já alguma vez quis ver Mitch McConnell andar pelo Capitólio levando nas mãos a sua própria cabeça depois de ter sido entregue ao infame Ari? Ai amigo, não vai ser bonito - mas vai saber bem!

Então, como é, Barack? Tu e eu contra o mundo? Sim, podemos! Vai ser divertido - e talvez consigamos fazer alguma coisa. Que é que tens a perder? Esperança?

Idiotamente teu,

Michael Moore

MMFlint@aol.com

MichaelMoore.com

P.S.: Só para te dar um ideia do novo estilo que levo comigo, quando um palhaço como o senador Ben Nelson tentar empatar-te outra vez, isto é o que lhe vamos dizer para conseguir o seu voto:

"Tens exactamente três segundos para deixares o teu mandato ou eu assegurar-me-ei de que o Nebraska não receberá um único dólar federal durante o resto da presidência de Obama. E direi a toda a gente no teu Estado que tu usas cuecas fio-dental de trás para a frente. Agora no chão e faz 50 flexões!

06 de Março de 2010



Fonte: esquerda.net

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